domingo, 6 de outubro de 2013

Na Casa de Zé de Sousa


Na casa de Zé  de Sousa

                                     

                                                      Autor: José Tavares de Sousa


Bem antes de Eduardo Coutinho andar nos quatro cantos do sítio Araçás, município de São João do Rio do Peixe no estado da Paraíba, na busca de registrar a cultura de uma comunidade, autenticamente nordestina, ainda não prostituída pela influência da globalização, passaram outras expedições na tentativa de conseguir textos e músicas da região para geração de canções  e modas. Todo esse esforço, provavelmente, deva-se à peculiaridade da população araçazeira. 

A comunidade de Araçás não sabe e nunca ouviu falar que na China morre anualmente 10 milhões de pessoas,  três vezes a população de todo o Estado da Paraíba. Também não sabe que aquele país gastaria cerca de 4 milhões de metros cúbicos de madeira na construção de caixões para enterrar seus mortos e utilizaria 4 mil hectares de terra agricultável nessa operação. Não há recursos naturais suficientes para atender essa demanda, portanto, os Chineses, seguindo a tradição do passado budista imperial, devem resolver essa problemática realizando a cremação dos seus mortos.

A comunidade de Araçás não tem essa informação supracitada, sabe se comunicar solidariamente, trabalhar, rezar, participar de um forró e ouvir uma cantoria de pé -de- parede.

Nos domingos e feriados, a população resgatada pelo documentário “O fim e o princípio” não se dirige ao Shopping para fazer compras e assistir filmes, permanece na localidade passeando entre  as casa dos vizinhos, contando casos  e lorotas. Participando de cantorias com duplas de violeiros que sabem cantar as coisas peculiares da região. 

Não tem conhecimento de que 38%  de mais de um milhões de domicílios do estado da Paraíba são cadastrados nos programas do governo Federal, atendendo a 1 milhão e 200 mil pessoas,  mais de um terço da população estadual, vive com renda advinda de programas assistencialistas. Do ponto de vista econômico, a Paraíba  contribui com menos de 1%  do produto interno bruto nacional.

Mariquinha, a personagem do documentário “O fim e o princípio,”  expressa a sertaneja marcada pelo próprio destino de ser viúva, não ter gostado do período que viveu com seu marido e teve a infelicidade de viver distante do seu filho que mora no estado do Pará. Deixa claro que beber uma branquinha nos dias de feira, torna-se a melhor opção da sua vida.

Bom,  o mais importante é que o sítio Araçás era tradicional na prática de Novenas e Cantorias. No mês de maio todos os dias havia novena em “Doninha”. Mas, além de novena a cantoria de viola sempre foi preferida pela maioria da população araçazeira.

Abrindo a cantoria    

 No sitio Araçás escutei  as primeiras cantorias com contadores iniciantes e profissionais. Lá escutei pela primeira vez a  canção “Serenata da Montanha”do poeta rio-grandense  Elizeu Ventania.  Nascidos no sítio Baixio do Gila:  Mozim e Deozim dois rapazes, naquela época,   cantaram  fragorosamente a canção “Serenata da Montanha”

            Na casa de Zé de Sousa e de dona Corinta se escutava cantoria,  contavam-se casos,  bebia-se cachaça na “venda”  e ouvia-se Luiz Gonzaga  através de uma vitrola de cor preta, para o funcionamento  dessa utensilio, escasso naquela região, usava-se uma manivela  a qual era utilizada para dá  corda na vitrola.

Iniciando a cantoria os artistas populares sapecaram  as seguintes estrofes:


Cantador  1

 Hoje aqui nos Araçás

O dia  tem cor de lousa

A morte levou Corinta

Depois levou Zé de Sousa.

A morte é muito ingrata

Leva marido e esposa

Cantador  2, continuou  

Eu Sei que a morte ousa

Matar  quem a gente quer bem

Mas no dia que um doido,

Levar a morte também

Ai a morte saberá

O valor que a vida tem.
Autor: José Tavares de Sousa

sábado, 5 de outubro de 2013

Eu quero para meu sertão

 Não quero ver meu sertão

Autor: José Tavares de Sousa
Não quero ver meu sertão
Com criancinha buchuda
Descalça de pés no chão
De barriguinha graúda
Que nem come nem se veste
Que nem brinca e nem estuda.

Doutor, eu não quero ajuda
Eu quero pra meu sertão
Trabalho, escola, saúde
Higiene e habitação
E entregue aos trabalhadores
Os meios de produção.
                                               

sexta-feira, 5 de julho de 2013

O jumento


 José Tavares de Sousa 


O Jumento é animal sagrado, vários poetas já disseram. Zé Clementino, Patativa do Assaré e Luiz Gonzaga entre outros  cantaram e decantaram    estrofes  homenageando esse animal  de mil utilidades no sertão.

O Padre Antônio Batista Vieira nascido no  município de Várzea Alegre, Ceará, escreveu em 1964 o livro “O Jumento, nosso irmão” chegando a fundar o Clube Mundial do Jumento

A partir das últimas décadas do século XX esse Animal astucioso quase nordestino passou a perder espaço para tração mecanizada em todo o semiárido, atualmente a moto tem invadido o sertão e o jumento passou a ser esquecido. Mas, ele gigante pela própria  natureza é sempre  um animal feliz, mesmo abandonado pelo homem, ainda é lembrado pelos sertanejos.

I
Eu admiro o jumento
Com seu jeitão de andar
Animal astucioso
Na hora de relinchar
Diz as letras vogais
Sem mínguem  lhe perguntar.

II 

Mas quando vai namorar
Não é muito inteligente,
Corre veloz  e  armado
Derruba quem estar na frente
Mostrando a mercadoria

De forma inconveniente.

EU NASCI NUMA TIPOIA



sábado, 5 de janeiro de 2013

Maria de Jesus


Maria de Jesus
 José Tavares de sousa


Por que cedo pegaste a tua cruz,
Deixando-nos sem a tua companhia?
Será  que foi teu nome que dizia
Que tu eras a Maria de Jesus?


 Não,  santa Maria. Luz
Tu sempre tinhas  de sobra
Penso que Deus, fez manobra.
Para tê - la  junto de Jesus.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Quero me alfabetizar


Quero me alfabetizar      

 Autor:Jose Tavares de Sousa

Eu, um caboclo da roça
nsascido no meio do mato

Criado como batata

Que não tem regra de fato

Qual jerimum de vazante

Pescoçudo e fundo chato

 

E eu nascido no mato

Tive uma infância opaca

Amansando burro brabo

Tirando leite de vaca

Bebendo o leite, mugido

Pra curar minha ressaca

 

Batendo grampo em estaca

De pé-de-bode no peito

Roçando o mato crescido

Jurema cortei no jeito

No cabo da roçadeira

Eu era o boca de eito

 

Mas é falta de respeito

Sem ter casa pra morar

E a carteira de trabalho

Ninguém mais quis assinar

E eu feito arigó do mato

Sem saber a quem cobrar

 

Quero me alfabetizar

De estudar eu careço

Por não conhecer as coisas

Tenho pago um caro preço

Igual um escravo branco

Sem saber quanto mereço

 

Doutor, sei que careço

Que a escola mostre outra face

E que diga ao povo humilde

Que o problema é de classe

Uns nascem já dominados

Pra dominar, outro nasce

 

 

Eu quero ver minha classe

Sem ter discriminação

Trabalho, escola, saúde

Higiene e habitação

E entregue aos trabalhadores

Os meios de produção

 

Não quero ver meu sertão

Com criancinha bochuda

Descalça, de pés no chão

De barriguinha graúda

Que nem como nem se veste

Nem trabalha e nem estuda

 

Doutor, eu não quero ajuda

Nem assistencialismo

A escola tem que sair

Do seu academicismo

Sem ministrar EPB

Moral e nem catecismo

 

Abaixo o academicismo

E deixe o povo pensar

A escola é para todos

A educação popular

Mostrem quem é explorado

E o que fazer pra mudar

 

A escola tem que ensinar

À criança escovar dente

O homem fazer política

Mulher ser independente

E não deixar a pobreza

Ser mais subserviente

 

Tem que ser mais competente

Mostrar o certo e o errado

Doutor me ensine a contar

Pra não ser mais enganado

Pelo patrão e patroa

Que pagam pouco e atrasado

 

 

Não quero ser enganado

Com medalha e com troféu

Dizendo que pobre é vítima

Falando que rico é réu

Que rico vai pro inferno

E pobre é que vai pro céu

 

Doutor guarde esse seu céu

Que nele eu não quero entrar

Analfabeto político

Quero me alfabetizar

E se não for desse jeito

Não vou me matricular

sábado, 15 de setembro de 2012

Quem não é e quer ser sem ser, não pensa

Quem não é e quer ser sem ser, não pensa
Pra saber que não é o que pensou”




Quem não lembra de Hitler na Alemanha
Que queria do mundo ser o dono.
Mussolini também queria um trono
Mas tiveram uma surpresa um tanto estranha.
Pois não houve sucesso na campanha
E a tática da guerra fracassou.
Nossa “FEB” que por la´ passou
Ainda hoje no mundo é quem tem crença.
Quem não é e quer ser sem ser, não pensa
Pra saber que não é o que pensou”