Na casa de
Zé de Sousa
Autor: José Tavares de Sousa
Bem
antes de Eduardo Coutinho andar nos quatro cantos do sítio Araçás, município de
São João do Rio do Peixe no estado da Paraíba, na busca de registrar a cultura
de uma comunidade, autenticamente nordestina, ainda não prostituída pela influência
da globalização, passaram outras expedições na tentativa de conseguir textos e
músicas da região para geração de canções
e modas. Todo esse esforço, provavelmente, deva-se à peculiaridade da
população araçazeira.
A
comunidade de Araçás não sabe e nunca ouviu falar que na China morre anualmente
10 milhões de pessoas, três vezes a
população de todo o Estado da Paraíba. Também não sabe que aquele país gastaria
cerca de 4 milhões de metros cúbicos de madeira na construção de caixões para
enterrar seus mortos e utilizaria 4 mil hectares de terra agricultável nessa
operação. Não há recursos naturais suficientes para atender essa demanda,
portanto, os Chineses, seguindo a tradição do passado budista imperial, devem
resolver essa problemática realizando a cremação dos seus mortos.
A
comunidade de Araçás não tem essa informação supracitada, sabe se comunicar
solidariamente, trabalhar, rezar, participar de um forró e ouvir uma cantoria
de pé -de- parede.
Nos
domingos e feriados, a população resgatada pelo documentário “O fim e o
princípio” não se dirige ao Shopping para fazer compras e assistir filmes,
permanece na localidade passeando entre
as casa dos vizinhos, contando casos
e lorotas. Participando de cantorias com duplas de violeiros que sabem
cantar as coisas peculiares da região.
Não
tem conhecimento de que 38% de mais de
um milhões de domicílios do estado da Paraíba são cadastrados nos programas do
governo Federal, atendendo a 1 milhão e 200 mil pessoas, mais de um terço da população estadual, vive
com renda advinda de programas assistencialistas. Do ponto de vista econômico, a
Paraíba contribui com menos de 1% do produto interno bruto nacional.
Mariquinha,
a personagem do documentário “O fim e o princípio,” expressa a sertaneja marcada pelo próprio
destino de ser viúva, não ter gostado do período que viveu com seu marido e
teve a infelicidade de viver distante do seu filho que mora no estado do Pará.
Deixa claro que beber uma branquinha nos dias de feira, torna-se a melhor opção
da sua vida.
Bom, o mais importante é que o sítio Araçás era
tradicional na prática de Novenas e Cantorias. No mês de maio todos os dias
havia novena em “Doninha”. Mas, além de novena a cantoria de viola sempre foi
preferida pela maioria da população araçazeira.
Abrindo
a cantoria
Na
casa de Zé de Sousa e de dona Corinta se escutava cantoria, contavam-se casos, bebia-se cachaça na “venda” e ouvia-se Luiz Gonzaga através de uma vitrola de cor preta, para o
funcionamento dessa utensilio, escasso
naquela região, usava-se uma manivela a
qual era utilizada para dá corda na
vitrola.
Iniciando
a cantoria os artistas populares sapecaram
as seguintes estrofes:
Cantador 1
O dia tem cor de lousa
A morte levou
Corinta
Depois levou Zé
de Sousa.
A morte é muito
ingrata
Leva marido e
esposa
Eu Sei que a
morte ousa
Matar quem a gente quer bem
Mas no dia que um
doido,
Levar a morte
também
Ai a morte saberá
O valor que a
vida tem.
Autor: José Tavares de Sousa