Autor: Nivaldo Amador de Sousa
Quanta saudade me dá
Do meu sertão tão querido,
Nunca será esquecido,
Meu pequenino Araçá!
Às margens do Rio do Peixe,
Peço licença, me deixe,
Meu singular baluarte,
Das estradas do sertão,
Beijar teu ventre, teu chão,
Que faz também recordar-te.
Você foi o meu cenário,
Decorado de emoções,
E também meu relicário
De saudosas gerações.
Nasci na tua ribeira,
Aparado por parteira;
Naturalmente a brincar,
Fiz da infância um bastão,
Como ave de arribação,
O êxodo me faz chorar.
Neste chão araçazeiro,
Fiquei até os vinte anos,
No orgulho de beiradeiro,
Fui recuperando os danos
E, a cada acontecimento,
Cresci sem ressentimento
Num torrão de massapé.
E num pequeno salão,
Mamãe tomava a lição
Desde a Carta de ABC.
Vi crescer minha esperança
Num caminho mais seguro
E meu sonho de criança
Se contemplar no futuro.
No berço da fazendola,
Da labuta pra escola,
Fiz do suor do trabalho
A minha digna função
E foi com educação
Que descobri o que valho.
A ti devo a consciência,
Araçás, terra querida!
Que me encantou com prudência
No matinal de minha vida,
Me fez crescer de verdade
E, do sítio pra cidade,
Você não fez empecilho,
Sonhando ter condição
De ver a reputação
Na glória de cada filho.
Em meio a cada conselho
De praciante ou matuto,
Você me deu como espelho
Outro mundo absoluto,
Cheio de cisma e poder.
E, para me proceder,
Hasteei minha bandeira
Como símbolo de união,
Sem escudo e sem brasão,
Porém com sal na moleira.
Antenor foi meu esteio.
Hoje, saudoso a contemplo,
Além de ser meu passeio,
Também me serviu de exemplo.
Do simples brio de quietude,
Ficou a lembrança rude
Num sentimento de infante;
Saudades do “parque” sinto
E do “Adelino Pinto”,
Dos meus tempos de estudante.
Oh! Quantas saudades minhas
Pois quero te ver feliz
Igualmente às andorinhas
Lá da Praça da Matriz.
Quero livre o pensamento,
Não quero ver sofrimento,
Nem meu povo retirante;
Quero livre, independente
E não subserviente
Do poderio dominante.
Quero lembrar afinal
Tudo quanto enamorei,
Meu pedacinho rural,
Eu nunca te esquecerei!
Das serestas e folias,
Caçadas e cantorias.
E festas de casamento,
Das debulhas de feijão
E o tum-tum-tum do pilão
Não sai do meu pensamento.
Range com dengo uma rede
Quando chega o pôr-do-sol
No buraco da parede,
Canta alegre o rouxinol;
Contemplo minha gaiola,
Escuto o som da viola
E do compadre uma prosa,
Me prendo por vocação
Com o “Forro-no-varandão”,
Deitado na preguiçosa.
São coisas do interior,
Que nunca saem da memória;
Meu castelo sonhador
Tem como torre esta glória
E sem esquecer meu barro,
Como um boi velho de carro.
Que na bebida se acalma,
Sinto a vara-de-ferrão
Fazer gemer o cocão
Das cordas bambas da alma.
Terei por fim o sossego
Ao voltar pra minha terra.
Se eu viver esse aconchego,
Essa saudade se encerra,
Mesmo assim um apelo faço
Que me reservem um pedaço
Do meu Araçá amado.
Quando eu morrer, no seu chão,
Quero a satisfação
De nele ser enterrado.