O Sax divinal de Nedota
Crônica do escritor e poeta Wergniaud Breckenfeld
Alexandre
O semblante de nossa São João amanheceu mais
escuro, triste e silencioso sem ouvir os doces acordes de um Sax que
fazia parte do cotidiano de nossa história. Morreu seu dono Nedota, aquele que
dominava com incomparável maestria este instrumento. Partiu o velho boêmio, que
tantas alegrias proporcionaram nos sambas, forrós e carnavais, com seu bocal
abençoado e a sensível inclinação musical para a arte dos sons e dos ritmos, ao
lado dos seus companheiros Raimundo Levina, Nego Dela, Piapai e Edmilson
Sanfoneiro. A mansidão, a humildade, a desambição, e o domínio que tinha sobre
sete instrumentos, fizeram deste ser tão especial, um mensageiro da nostalgia
que encantava seus ouvintes e admiradores.
Ele tinha a música dentro si. Era a presença de
Deus manifestada através do instrumento. Uma valsa, um bolero, um choro, um
frevo ou outro estilo musical, sem utilizar a partitura, continham arranjos que
somente ele realizava de forma única e irretocável, tornando-se um fenômeno que
orgulhava os melhores músicos de sua terra e região.
O maestro, compositor e arranjador Natinho, esta
enciclopédia de abrangência excepcional, é testemunha do que o grande Nedota
era capaz de realizar, de ouvido, em qualquer gênero musical.
Quantas noites insones não animaram nossos corações
com seus sopros divinais contemplando o amanhecer, através das frestas das
janelas do inesquecível navarrense clube, onde os foliões embevecidos ouviam
seus frevos aguardando com tristeza a chegada da ingrata quarta-feira de
cinzas.
Parte o homem, e fica o legado a ser seguido pelos
amantes da boa música. Onde ele estiver à alegria estará presente enaltecendo
os corações dos mal amados.
Ah! Meu velho e querido amigo, não se esqueça de
transmitir um forte e afetuoso abraço ao seu colega saxofonista, o saudoso
Renan de Doutor Alberto. Aproveite a paz e as belezas dos jardins que um dia
Eva habitou, convidando Banjim para cantar PAIXÃO DE UM HOMEM de Waldick
Soriano, e reserve uma meota na nuvem mais fria que você encontrar, que em
breve nos encontraremos para relembrarmos com saudade, os dobrados tocados pela
banda municipal nas retretas no velho coreto e nas alvoradas ensolaradas pelas
ruas empoeiradas da antiga Antenor Navarro.
Nossos profundos sentimentos à sua
família!
Aplausos musicais para o inesquecível Mestre
Nedota!
É o mínimo que ele merece!
Wergniaud Breckenfeld Alexandre
João Pessoa, 14 de janeiro de 2014.