Quero
me alfabetizar
Eu,
um caboclo da roça
nsascido
no meio do mato
Criado
como batata
Que
não tem regra de fato
Qual
jerimum de vazante
Pescoçudo
e fundo chato
E
eu nascido no mato
Tive
uma infância opaca
Amansando burro brabo
Tirando
leite de vaca
Bebendo
o leite, mugido
Pra
curar minha ressaca
Batendo
grampo em estaca
De
pé-de-bode no peito
Roçando
o mato crescido
Jurema
cortei no jeito
No
cabo da roçadeira
Eu
era o boca de eito
Mas
é falta de respeito
Sem
ter casa pra morar
E
a carteira de trabalho
Ninguém
mais quis assinar
E
eu feito arigó do mato
Sem
saber a quem cobrar
Quero
me alfabetizar
De
estudar eu careço
Por
não conhecer as coisas
Tenho
pago um caro preço
Igual
um escravo branco
Sem saber quanto
mereço
Doutor, sei que careço
Que
a escola mostre outra face
E
que diga ao povo humilde
Que
o problema é de classe
Uns
nascem já dominados
Pra
dominar, outro nasce
Eu
quero ver minha classe
Sem
ter discriminação
Trabalho,
escola, saúde
Higiene
e habitação
E
entregue aos trabalhadores
Os
meios de produção
Não
quero ver meu sertão
Com
criancinha bochuda
Descalça, de pés no chão
De
barriguinha graúda
Que
nem como nem se veste
Nem
trabalha e nem estuda
Doutor,
eu não quero ajuda
Nem
assistencialismo
A
escola tem que sair
Do
seu academicismo
Sem
ministrar EPB
Moral
e nem catecismo
Abaixo
o academicismo
E
deixe o povo pensar
A
escola é para todos
A
educação popular
Mostrem
quem é explorado
E
o que fazer pra mudar
A
escola tem que ensinar
À
criança escovar dente
O
homem fazer política
Mulher
ser independente
E
não deixar a pobreza
Ser
mais subserviente
Tem
que ser mais competente
Mostrar
o certo e o errado
Doutor
me ensine a contar
Pra
não ser mais enganado
Pelo
patrão e patroa
Que
pagam pouco e atrasado
Não
quero ser enganado
Com
medalha e com troféu
Dizendo
que pobre é vítima
Falando
que rico é réu
Que
rico vai pro inferno
E
pobre é que vai pro céu
Doutor
guarde esse seu céu
Que
nele eu não quero entrar
Analfabeto
político
Quero
me alfabetizar
E
se não for desse jeito
Não vou me
matricular