domingo, 27 de novembro de 2011

Zé Tavares participa da cantoria dos Araçás


 Meu sertão

Autor: José Tavares de sousa


Não quero ver meu sertão
Com criancinha buchuda
Descalça de pés no chão
De barriguinha graúda
Que nem come nem se veste
Que nem brinca e nem estuda.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Vicente das Aroeiras participa da cantoria dos Araçás


METAMORFOSE HUMANA
Autor: Vicente César
Andrade
I
Chorei quando nasci
Foi um choro diferente
Daqueles que chora agente
Quando um dia partir
Minhas lágrimas ao cair
Denotavam insegurança
Após aquela mudança
Do ventre que me guardava
O meu choro anunciava
Chegava outra criança.

II
Com a criança, a inocência
Que aos poucos foi morrendo
A criança foi crescendo
Foi perdendo sua essência
Atingindo a adolescência
Cheia de transformações
Despertando sensações
Que ainda não conhecia
O adolescente sentia
Suas primeiras paixões.

III
Paixão, alegria e tristeza,
O adolescente enfrentaria
Tudo isso o deixaria
Cercado de incertezas
Momento que a natureza
Agiria novamente
Dormia o adolescente
Pra nunca mais acordar
Despertava em seu lugar
Um jovem experiente.

IV
O jovem já entendia
De células e cromossomos
Na verdade o que somos
Ele agora já sabia
Consciente esperaria
Uma nova mutação
Deixaria a geração
De sonhos e vaidade
Chegava à terceira idade
Repleto de emoção.



V
Emoção que o fortalece
No resto da caminhada
Suas vísceras já cansadas
Cambaleando padece
Assim mesmo não esquece
De pedir em oração
Que a última transformação
Demore a acontecer
Seu desejo era viver
Além desta ocasião.

VI
Ocasião que encerra
Segundo a Bíblia Sagrada
Uma breve temporada
Do homem aqui na terra
Momento em que descerra
Uma porta pro além
De onde jamais ninguém
Acertou com a fechadura
Pois nenhuma criatura
Voltou para ver alguém.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Antônio Amador participa da cantoria dos Araçás


Lembranças de um carreiro
Autoria:Antonio Amador de Sousa


Era tarde de Domingo;
Sol vermelho de verão;
E a sombra fria do alpendre
Do meu velho casarão,
No terreiro se estendia
E, como um ponteiro, ia
Marcando as horas no chão.

De repente, uma porção
De folhas de juazeiro,
Farfalhando, vadiavam
Nos recantos do terreiro.
Migravam da seca rama,
E ao pé da cerca de cama
Iam formando um balseiro.

Assobios de carreiro,
Badaladas de chocalho,
Vinham marcando o compasso
Da junta, no cabeçalho.
E o carro, pesado, vinha
Entoando a musiquinha
Da canção do seu trabalho.

Na entrada de um atalho
Que desviava a estrada,
O carro gemeu mais grave,
Indicando uma parada.
Pesando igualmente a chumbo,
Numa moita de mofumbo,
Ficou uma roda encalhada.

Pedro gritou a boiada:
- Vai Brasil e Brasileiro!
Que se encurvavam na canga
Sob o peso do madeiro.
E a vara de ferrão
Dava mais um cutucão
Sob as ordens do carreiro.


Já bem próximo ao juazeiro
Da frente da moradia,
A boiada, com esforços,
A carrada conduzia
Já num sôfrego compasso,
Pra aliviar seu cansaço
Embaixo da sombra fria.

- Ôôôôa! Disse Pedro, o guia,
Dando uma ordem de esbarro.
Chamou pelo seu sobrinho;
Acendeu mais um cigarro.
- Temos serviço pra dois:
Tirar a canga dos bois,
Depois escorar o carro.

Antônio, sem dar esparro,
Atendeu ao seu chamado.
Tirou a canga dos bois,
Deixou o carro escorado.
Sem fazer uma pergunta,
Foi dar de beber à junta
No cacimbão do roçado.

E eu ficava admirado,
Do alpendre contemplando.
Sentindo o cheiro do carro
Que o vento vinha soprando.
Para mim valia à pena
Assistir àquela cena...
Que tempo finda apagando.

Os dois chocalhos roçando
Na borda do tanque raso,
Formavam certa cadência
Que se escutava ao acaso,
Enquanto o sol se escondia,
Levando o clarão do dia,
E anunciando o ocaso.


E assim se findava o prazo
Desse dia de labor:
O carreiro foi dormir;
O sol perdeu seu calor;
A brisa deu seu açoite;
E o manto escuro da noite
Fez o céu mudar de cor.

Tudo calmo no setor.
A noite já estava vindo.
O céu vestiu-se de estrelas
Para se tornar mais lindo.
E a contemplá-lo eu sonhava,
E enquanto sonhando estava
Também acabei dormindo.

Hoje, eu recordo sentindo
Uma saudade danada:
Saudade da minha infância,
Dos bois, o carro... a
estrada...
Porém, triste por saber
Que jamais poderei ver
Pedro guiando a boiada.

É que não resta mais nada
Do que ao passado serviu.
Cenas como as que retrato
Lá ninguém mais assistiu.
Que os bois, o dono vendeu;
O carro, o cupim comeu;
E o dono, a terra cobriu.

Assim meu peito sentiu,
Deixando a recordação
Do cenário mais legítimo
Que representa o sertão.
E como dito já foi,
Ficou um carro de boi
Cantando em meu coração.