domingo, 27 de novembro de 2011

Zé Tavares participa da cantoria dos Araçás


 Meu sertão

Autor: José Tavares de sousa


Não quero ver meu sertão
Com criancinha buchuda
Descalça de pés no chão
De barriguinha graúda
Que nem come nem se veste
Que nem brinca e nem estuda.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Vicente das Aroeiras participa da cantoria dos Araçás


METAMORFOSE HUMANA
Autor: Vicente César
Andrade
I
Chorei quando nasci
Foi um choro diferente
Daqueles que chora agente
Quando um dia partir
Minhas lágrimas ao cair
Denotavam insegurança
Após aquela mudança
Do ventre que me guardava
O meu choro anunciava
Chegava outra criança.

II
Com a criança, a inocência
Que aos poucos foi morrendo
A criança foi crescendo
Foi perdendo sua essência
Atingindo a adolescência
Cheia de transformações
Despertando sensações
Que ainda não conhecia
O adolescente sentia
Suas primeiras paixões.

III
Paixão, alegria e tristeza,
O adolescente enfrentaria
Tudo isso o deixaria
Cercado de incertezas
Momento que a natureza
Agiria novamente
Dormia o adolescente
Pra nunca mais acordar
Despertava em seu lugar
Um jovem experiente.

IV
O jovem já entendia
De células e cromossomos
Na verdade o que somos
Ele agora já sabia
Consciente esperaria
Uma nova mutação
Deixaria a geração
De sonhos e vaidade
Chegava à terceira idade
Repleto de emoção.



V
Emoção que o fortalece
No resto da caminhada
Suas vísceras já cansadas
Cambaleando padece
Assim mesmo não esquece
De pedir em oração
Que a última transformação
Demore a acontecer
Seu desejo era viver
Além desta ocasião.

VI
Ocasião que encerra
Segundo a Bíblia Sagrada
Uma breve temporada
Do homem aqui na terra
Momento em que descerra
Uma porta pro além
De onde jamais ninguém
Acertou com a fechadura
Pois nenhuma criatura
Voltou para ver alguém.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Antônio Amador participa da cantoria dos Araçás


Lembranças de um carreiro
Autoria:Antonio Amador de Sousa


Era tarde de Domingo;
Sol vermelho de verão;
E a sombra fria do alpendre
Do meu velho casarão,
No terreiro se estendia
E, como um ponteiro, ia
Marcando as horas no chão.

De repente, uma porção
De folhas de juazeiro,
Farfalhando, vadiavam
Nos recantos do terreiro.
Migravam da seca rama,
E ao pé da cerca de cama
Iam formando um balseiro.

Assobios de carreiro,
Badaladas de chocalho,
Vinham marcando o compasso
Da junta, no cabeçalho.
E o carro, pesado, vinha
Entoando a musiquinha
Da canção do seu trabalho.

Na entrada de um atalho
Que desviava a estrada,
O carro gemeu mais grave,
Indicando uma parada.
Pesando igualmente a chumbo,
Numa moita de mofumbo,
Ficou uma roda encalhada.

Pedro gritou a boiada:
- Vai Brasil e Brasileiro!
Que se encurvavam na canga
Sob o peso do madeiro.
E a vara de ferrão
Dava mais um cutucão
Sob as ordens do carreiro.


Já bem próximo ao juazeiro
Da frente da moradia,
A boiada, com esforços,
A carrada conduzia
Já num sôfrego compasso,
Pra aliviar seu cansaço
Embaixo da sombra fria.

- Ôôôôa! Disse Pedro, o guia,
Dando uma ordem de esbarro.
Chamou pelo seu sobrinho;
Acendeu mais um cigarro.
- Temos serviço pra dois:
Tirar a canga dos bois,
Depois escorar o carro.

Antônio, sem dar esparro,
Atendeu ao seu chamado.
Tirou a canga dos bois,
Deixou o carro escorado.
Sem fazer uma pergunta,
Foi dar de beber à junta
No cacimbão do roçado.

E eu ficava admirado,
Do alpendre contemplando.
Sentindo o cheiro do carro
Que o vento vinha soprando.
Para mim valia à pena
Assistir àquela cena...
Que tempo finda apagando.

Os dois chocalhos roçando
Na borda do tanque raso,
Formavam certa cadência
Que se escutava ao acaso,
Enquanto o sol se escondia,
Levando o clarão do dia,
E anunciando o ocaso.


E assim se findava o prazo
Desse dia de labor:
O carreiro foi dormir;
O sol perdeu seu calor;
A brisa deu seu açoite;
E o manto escuro da noite
Fez o céu mudar de cor.

Tudo calmo no setor.
A noite já estava vindo.
O céu vestiu-se de estrelas
Para se tornar mais lindo.
E a contemplá-lo eu sonhava,
E enquanto sonhando estava
Também acabei dormindo.

Hoje, eu recordo sentindo
Uma saudade danada:
Saudade da minha infância,
Dos bois, o carro... a
estrada...
Porém, triste por saber
Que jamais poderei ver
Pedro guiando a boiada.

É que não resta mais nada
Do que ao passado serviu.
Cenas como as que retrato
Lá ninguém mais assistiu.
Que os bois, o dono vendeu;
O carro, o cupim comeu;
E o dono, a terra cobriu.

Assim meu peito sentiu,
Deixando a recordação
Do cenário mais legítimo
Que representa o sertão.
E como dito já foi,
Ficou um carro de boi
Cantando em meu coração.








domingo, 9 de outubro de 2011

Joaõ Paraibano participa da cantoria dos Araçás

Joaõ Paraibano disse:

"Me lembro da minha mãe
Dentro do quarto inquieta

Passando o dedo com papa

Nessa boca analfabeta
Sem saber que um dedo rude

Tava criando um poeta"
Outro verso de João Paraibano:

"Toda a noite quando deito
Um pesadelo me abraça
Meu cabelo que era preto
Está da cor de fumaça
Ficou branco após os trinta
Eu não quis gastar com tinta
O tempo pintou de graça"

sábado, 24 de setembro de 2011

Romário pede mote na cantoria dos Araçás

Romário, Administrador e corretor de imóveis, esteve na cantoria e solicitou um o seguinte mote:

Minha bomba de puxar água

Está diferente de mais.

Mozim:

No tempo que eu era moço

O meu kit de irrigação

Era de tanta perfeição

Que irrigava carne e osso

Veia fina e couro grosso

E as vias tangenciais

Hoje diferença faz

O líquido não mais deságua

Minha bomba de puxar água

Está diferente de mais.

Deozim continuou

Só se for a do senhor

A minha é uma beleza

O liquido tem correnteza

Basta é liga o motor

Irriga com tanto fervor

Que jorra pelos canais

Nos momentos especiais

Não tem lamento nem magoa

Minha bomba de puxar água

Está diferente de mais

Amador esteve na cantoria dos Araçás

Antonio Amador, engenheiro, professor Universitário e poeta extraordinário, pediu um assunto bíblia para sextilhas: Crucificação de Jesus.

Mozim Iniciou:
Sei que Pôncio Pilatos
Um romano endiabrado
Foi amigo de Herodes
Jesus foi crucificado.
Mas depois se arrependeu
Para pagar seu pecado.

Deozim continuou:
Pilatos cabra safado
Foi fraco de fazer dó
Lavou as mãos, e os pés
Perna, braço e mocotó
Não Lavou o corpo inteiro
Por faltar Sabão em pó.

Nivaldo Amador na Cantoria dos Araças

Nivaldo Amador, poeta, economista e político de conceituada capacidade intelectual na região sertaneja pediu o seguinte a Assunto para sextilhas: Santo protetor

Mozim Iniciou:
O santo que me protege
É de ferro, bronze e aço
Reza de noite e de dia
E nunca sente cansaço
Ajoelha-se e se levanta
Não sofre dor de espinhaço.

Deozim continuou:
Pois o meu é um fracasso
Velho fraco e dormi oco
Reza uma vez por semana
Que pra santo é muito pouco
Vive a vida na moleza
E eu passando sufoco.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Prof. Tavares participa da cantoria dos Araçás

Às vezes fico pensando

Que sou mesmo incompetente.

Faça muitas coisas boas

As quais me deixam contente

Mas, também faço besteira

Que dói no meu consciente.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Mozim e Deozim abrindo a cantoria nos Araçás.

Mozim e Deozim nascidos no sítio Baixio do Gila no município de São João do Rio do Peixe participaram da Cantoria nos Araçás. Abrindo a cantoria

Mozim Iniciou:

Hoje aqui nos Araçás

O dia tem cor de lousa

A morte levou Corinta

Depois levou Zé de Sousa.

A morte é muito ingrata

Leva marido e esposa

Deozim continuou

Sei que a morte sempre ousa

Matar quem a gente quer bem

Mas, no dia em que DEUS

Levar a morte também

Ai a morte vai ver

O valor que a vida tem.

Antonio Amador Ribeiro Dias presente na cantoria solicitou o seguinte assunto para sextilhas: Meu sertão de Antigamente.

Mozim Iniciou:

Eu acho que o meu sertão

Não é o de antigamente

Que filho obedecia a pai

A mãe ao avó ao parente

E as drogas que existiam

Eram café e aguardente.

Deozim continuou

Hoje é muito diferente

Do sertão que fui nascido

É filho matando o pai

É pai sendo bandido

É fêmea atrás de mulher

È homem atrás de marido.

Nato de Zé Domingos presente na cantoria conversando a respeito de uma briga de peixeira, na qual um cidadão perdeu a banda do intestino e um pedaço do coração e escapou, parece ser milagre Nato replicou. Geraldo de Antonio Timóteo disse, Jesus ressuscitou esse homem

Mozim pegou o assunto e Iniciou:

Jesus ressuscita morto

Conforme a bíblia confessa

Eu ia morrendo de graça

Mas, Jesus chegou depressa

Botou a mão e eu escapei

Depois paguei a promessa

Deozim continuou

Que estória de promessa

Você não entende o xadrez?

Jesus só lhe deixou vivo

Por levar de outra vez

Pra você se arrepender

Das besteiradas que fez.

Assunto: Santo protetor

Mozim Iniciou:

O santo que me protege

É de ferro, bronze e aço

Reza de noite e de dia

E nunca sente cansaço

Ajoelha-se e se levanta

E não tem dor de espinhaço.

Deozim continuou

Pois o meu é um fracasso

Velho fraco e dormi oco

Reza uma vez por semana

Que pra santo é muito pouco

Vive a vida na moleza

E eu passando sufoco.

Assunto: bíblia

Mozim Iniciou:

Sei que Pôncio Pilatos

Um romano endiabrado

Foi amigo de Herodes

Jesus foi crucificado.

Mas depois suicidou-se

Para pagar seu pecado

Pilatos cabra safado

Foi fraco de fazer dó

Lavou as mãos, e os pés

Perna, braço e mocotó

Não Lavou o corpo inteiro

Por faltar Sabão em pó

Assunto: Tempo atual

Mozim Iniciou:

M- Para se livrar dos males

Tem que ser mais Perspicaz

Lutar por dignidade

Por métodos racionais

Já que a caixa de Pandora

Nem todo o mundo Faz

Deozim continuou

Precisa mesmo é ter gás

Pra botar no candeeiro

Pra que ter dignidade

Se que vale é ter dinheiro

Quem não sabe fazer caixa

Não dá pra ser carpinteiro

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Cindoval e Mará presentes na cantoria dos Araçás

O professor Cindoval Morais juntamente com o professor Mará chegaram na cantoria dos Araçás o primeiro recitou uma poesia de Carlos Drummond de Andrade.

'Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem.
A noite era quente e calma e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste.
Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor!

Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e
mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares.
Eu adormeci. Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.

Deixaste em meu corpo e no lençol, provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama te esperar.
Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força.
Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos.
Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti,

Pernilongo, Filho da Puta!'

sábado, 10 de setembro de 2011

Rolando Boldrin na cantoria dos Araçás

O poeta Boldrin esteve na cantoria dos Araçás e declamou:

Homem não chora

Hoje aqui, oiando pra vancê meu pai,
To me alembrando quanto tempo faz
Que pela primeira vez na vida, eu chorei.
Não foi quando nasci pru que sei que vim berrando...
E disso ninguém se alembra, não.
Foi quando um dia eu caí... Levei um trupicão,
Eu era criança. Me esfolei, a perna me doeu,
Quis chora, oiei pra vancê, que esperança.
Vancê não correu pra do chão me alevanta.

Só me oiô e me falô:
- Que isso, rapaz ? Alevanta já daí...
HOMI NÃO CHORA.

Aquilo que vancê falô naquela hora,
Calou bem fundo,
pru que vancê era o maió homi do mundo.
Não sabia menti nem pra mim nem pra ninguém...
O tempo foi passando... Cresci também...
Mas sempre me alembrando...
HOMI NÃO CHORA. Foi o que vancê falô.

O mundo foi me dando os solavanco,
Ia sentindo das pobreza os tranco...
Vendo as tristezas vorteá nossa famía,
E as vêiz as revorta que eu sentia era tanta,
Que me vinha um nó cego na garganta,
Uma vontade de gritá... Berrá, chorá... Mas quá...
Tuas palavra, pai, não me saía dos ouvido...
HOMI NÃO CHORA.

Intão, mesmo sentido, eu tudo engolia
E segurava as lágrima que doía...
E elas não caía, nem com tamanho de
Quarqué uma dô...

Veio a guerra de 40... E eu tava lá... Um homi feito,
Pronto pra defendê o Brasí.
Vancê e a mãe foram me acompanhá pra despedi.
A mãe, coitada, quando me abraçô, chorô de saluçá.
Mas, nóis dois, não.
Nóis só se oiêmo, se abracêmo e despedimo
Como dois HOMI. Sem chorá nem um pingo.
Ah, me alembro bem... Era um dia de domingo.

Também, quem é que pode esquecê daquele tempo ingrato?
Fui pra guerra, briguei, berrei feito um cachorro do mato,
A guerra é coisa que martrata..
Fiquei ferido... Com sodade de vancês... Escrevi carta.
Sonhei, quase me desesperei, mas chora, memo que era bão
Nunca chorei...
Pruque eu sempre me alembrava daquilo que meu pai falô:
- HOMI NÃO CHORA.

Agora, vendo vancê aí... Desse jeito... Quieto... Sem fala,
Inté com a barbinha rala, pru que não teve tempo de fazê..
Todo mundo im vorta, oiando e chorando pru vancê...
Eu quero me alembrá... Quero segurá... Quero maginá
Que nóis dois sempre cumbinemo de HOMI NÃO CHORÁ...

Quero maginá que um dia vancê vorta pra nossa casa
Pobre..e nóis vai podê de novo se vê ansim, pra converá
Intão vem vindo um desespero, que vai tomando conta..
A dô de vê vancê ansim é tanta... É tanta, pai,
Que me vorta aquele nó cego na garganta e uma lágrima
Teimosa quase cai..
Óio de novo prôs seus cabelo branco... E arguém me diz
Agora pra oiá pela úrtima vez... Que tá na hora de vancê
Embarcá.

Passo a minha mão na sua testa que já não tem mais pensamento....

E a dô que to sentindo aqui dentro,
Vai omentando... Omentando, quage arrebentando
Os peito... E eu não vejo outro jeito senão me descurpá.
O sinhô pediu tanto pra móde eu não chora...

HOMI NÃO CHORA... O sinhô cansô de me falá...

Mas, pai, vendo o sinhô ansim indo simbora...

Me descurpe, mas,
Tenho que chorá.

Fonte: http://www.tvcultura.com.br/srbrasil/poemas.asp?cod=20

Postado por Roberto Vargas Jr. http://img1.blogblog.com/img/icon18_email.gifhttp://img2.blogblog.com/img/icon18_edit_allbkg.gif

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Cantoria nos Araçás 6

Reginaldo Tavares, Educador, radialista e poeta chegou à cantoria dos Araçás e recitou: “Nenén de Solidade”

Vou deixar os Cabarés

De mulata vaidosa

Quero é viver de prosa

De samba e arrasta-pés

Vou deixar os Cabarés


De mulher prostituída

Vou levar a minha vida

Distantes desses bordéis

Vou deixar os Cabarés

Do tempo de boemia

Pra escutar cantoria

Dos poetas menestréis

Vou deixar os Cabarés


O meu mundo absoluto

Quere mesmo é ser matuto

Vou voltar a ler cordéis.

Nini de Zé de Sousa recitou na cantoria duas estrofes do poema: Ao meu Pai

Quero vê-lo, de novo, chegando do curral

Com aquela lata de leite que você trazia

Empurrando com seu ombro minha tipóia

E acordando-me na madrugada fria

Mas, você meu pai, foi-se embora

E esqueceu-se de dizer pra onde ia.


Eu fiquei sem saber o seu destino

Remoendo tudo o que se passou.

Hoje ando seguindo a seu caminho

Na estrada em que você andou

Desviando de pedras e de espinhos

Que também não sei pra onde vou.

Pedro Lúcio Barboza professor Universitário, ex-secretário de Educação do município de Campina Grande, declamou na cantoria dos Araçás.

O Sermão da montanha (*versão para educadores*) De Luiz Carlos.

Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem.
Ele os preparava para serem os educadores capazes de transmitir a lição da Boa Nova a todos os homens.
Tomando a palavra, disse-lhes:

- Em verdade, em verdade vos digo: Felizes os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados. Felizes os misericordiosos, porque eles...?
Pedro o interrompeu:

- Mestre, vamos ter que saber isso de cor?
André perguntou:

- É pra copiar?
Filipe lamentou-se:

- Esqueci meu papiro!
Bartolomeu quis saber:

- Vai cair na prova?
João levantou a mão:

- Posso ir ao banheiro?
Judas Iscariotes resmungou:

- O que é que a gente vai ganhar com isso?
Judas Tadeu defendeu-se:

- Foi o outro Judas que perguntou!
Tomé questionou:

- Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?
Tiago Maior indagou:

- Vai valer nota?
Tiago Menor reclamou:

- Não ouvi nada, com esse grandão na minha frente.
Simão Zelote gritou, nervoso:

- Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto!?
Mateus queixou-se:

- Eu não entendi nada, ninguém entendeu nada!
Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão nem ensinado nada a ninguém,

tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:
- Isso que o senhor está fazendo é uma aula? Onde está o seu plano de curso e a avaliação diagnóstica?
Quais são os objetivos gerais e específicos? Quais são as suas estratégias para recuperação dos conhecimentos prévios?

Caifás emendou:

- Fez uma programação que inclua os temas transversais e atividades integradoras com outras disciplinas?
E os espaços para incluir os parâmetros curriculares gerais? Elaborou os conteúdos conceituais, processuais e atitudinais?

Pilatos, sentado lá no fundão, disse a Jesus:

- Quero ver as avaliações da primeira, segunda e terceira etapas e reservo-me o direito de, ao final,aumentar as notas dos seus discípulos para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino de qualidade.
- Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a eficácia do nosso projeto.
- E vê lá se não vai reprovar alguém!
E, foi nesse momento que Jesus levantou os olhos para o céu e disse:

"Senhor, Senhor por que me abandonastes?"

Luiz Carlos

sábado, 3 de setembro de 2011

Cantoria nos Araçás 4

Nini de Zé de Sousa moleque araçazeiro estudou na escola mista de araçás e teve como professora sua mãe Corinta Tavares Dias. A professora Corinta, conhecida na região como dona Peixe iniciou sua profissão em 1952, trabalhou como professora do Estado da Paraíba até a década de 90, portanto, alfabetizou muita gente naquela região. Nini chegou à cantoria e recitou o soneto 14 de novembro de 2002
.

Meu Deus, você veio sorrateiramente.
Pegou a minha mamãe e a levou consigo
Você não é meu Deus, nem meu amigo.
Não posso acreditar n’ Deus que mata gente.

Mas, como católico, apostólico e carente!
De amor materno, afeto, bênção, eu digo.
Cuide de minha mamãe em seu último abrigo
Aqui eu fico, com a saudade, eternamente.

Lá na casa divina, abra a porta da sala.
Pergunte por mamãe, diga que quer visitá-la!
Pegue na sua mão e ande pelo jardim.

Converse com ela, fale silenciosamente!
Que sou o mesmo meninão de antigamente
E pode me chamar, quando precisar de mim.

José Tavares de Sousa

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Cantoria nos Araçás 2

Sinval Ribeiro genuinamente araçazeiro, um grande poeta, autor do hino do município de São João do Rio do Peixe sua terra natal. Foi poeta repentista nos anos 60, entre os seus poemas o mais famoso “ Tudo passa” ....... Sinval chegou na cantoria e colocou o seguinte mote:

Quem não é e quer ser sem ser não pensa
Pra saber que não é o que pensou

Mozim:
Planejei não viver tempo finito
Consagrar mais de vinte casamentos
Construir 120 apartamentos
Não fiz nem uma mesa de granito
Meu casório, todo tempo teve atrito
Outro dia a danada me deixou
O Filho de outro, eu criava, ela levou
Deixou a cama forrada na dispensa
Quem não é e quer ser sem ser não pensa
Pra saber que não é o que pensou

Deozim continuou:
Quem não lembra de Hitler na Alemanha
Que queria do mundo ser o dono
Mussolini também queria um trono
Mas, tive uma surpresa um tanto estranha
Pois não houve sucesso na campanha
E a tática da guerra fracassou
Nossa FEB que por la´ passou
Ainda hoje no mundo é quem tem crença
Quem não é e quer ser sem ser não pensa
Pra saber que não é o que pensou

O poeta João Batista Dantas, nascido em São José do Egito passava temporadas nos sítios Riachão, Baixio do Gila, Livramento e Araçás. No dia da cantoria estava no recinto e solicitou que os poetas cantassem a existência de Deus.

Mozim:
A natureza é perfeita
O mundo é que é furado
O risco que corre o pau
Também corre o machado
Que Deus na joga dados
Nesse mundão de pecado

Deozim continuou:
Eu sei que bozó guiado
É preso como rabicho
Dado é jogo de azar
Deus não joga por capricho
Se ele não joga dados
Por que não joga no bicho?

sábado, 27 de agosto de 2011

Cantoria nos Araçás 1

Bem antes de Eduardo Coutinho andar nos quatro cantos do sítio Araçás município de São João do Rio do Peixe no estado da Paraíba, na busca de registrar a cultura de uma comunidade autenticamente nordestina ainda não prostituída pela influencia da globalização, passaram outras expedições na tentativa de conseguir textos e músicas da região para geração de canções e modas. Todo esse esforço, provavelmente, deva-se a peculiaridade da população araçazeira.
A comunidade de Araçás não sabe e nunca ouviu falar que na China morre anualmente 10 milhões de pessoas, três vezes a população de todo o Estado da Paraíba. Também não sabe que aquele país gastaria cerca de 4 milhões de metro cúbico de madeira na construção de caixões para enterrar seus mortos e utilizaria 4 mil hectares de terra agricultável nessa operação. Não há recursos naturais suficientes para atender essa demanda, portanto, os Chineses seguindo a tradição do passado budista imperial devem resolver essa problemática realizando a cremação dos seus mortos.
A comunidade de araçás não tem essa informação supracitada, sabe se comunicar solidariamente, trabalhar, rezar participar de um forró e ouvir uma cantoria de pé -de- parede.
Nos domingos e feriados, a população resgatada pelo documentário “O fim e o princípio” não se dirige ao Shping para fazer compras e assistir filmes, permanece na localidade passeando entre as casa dos vasinhos, contando casos e lorotas. Participando de cantorias com duplas de violeiros que sabem cantar as coisas peculiares da região.
Não tem conhecimento de que 38% de mais de um milhões de domicílios do estado da Paraíba são cadastrados nos programas do governo Federal, atendendo a 1 milhão e 200 mil pessoas mais de um terço da população estadual, vive com renda advinda de programas assistencialista. Do ponto de vista econômico, a Paraíba contribui com menos de 1% do produto interno bruto nacional.
Mariquinha a personagem do documentário “O fim e o princípio” expressa a sertaneja marcada pelo próprio destino de ser viúva, não ter gostado do período que viveu com seu marido e teve a infelicidade de viver distante do seu filho que mora no estado Pará. Deixa claro que beber uma branquinha nos dias de feira, torna-se a melhor opção da sua vida.
Bom, o mais importante é que o sítio Araçás é tradicional na prática de Novenas e Cantorias. No mês de maio novena em “Doninha” era o mês inteira. Mas, além de novena a cantoria de viola sempre foi preferida pela maioria da população araçazeira.
Mozim e Deozim nascidos no sítio Baixio do Gila no município de São João do Rio do Peixe participaram da Cantoria nos Araçás.

Abrindo a cantoria

Mozim Iniciou:
Hoje aqui nos Araçás
O dia tem cor de lousa
A morte levou Corinta
Depois levou Zé de Sousa.
A morte é muito ingrata
Leva marido e esposa

Deozim continuou:
Eu Sei que a morte ousa
Matar quem a gente quer bem
Mas, no dia em que DEUS
Levar a morte também
Ai a morte vai ver
O valor que a vida tem.

Antonio Amador Ribeiro Dias presente na cantoria solicitou o seguinte assunto para sextilhas: Meu sertão de Antigamente.

Mozim Iniciou:
Eu acho que o meu sertão
Não é o de antigamente
Que filho obedecia a pai
A mãe ao avó ao parente
E as drogas que existiam
Eram café e aguardente.

Deozim continuou:
Hoje é muito diferente
Do sertão que fui nascido
É filho matando o pai
É pai sendo bandido
É fêmea atrás de mulher
È homem atrás de marido.

Nato de Zé Domingos presente na cantoria conversando a respeito de uma briga de peixeira, na qual um cidadão perdeu a banda do intestino e um pedaço do coração e escapou, parece ser milagre Nato replicou. Geraldo de Antonio Timóteo disse, Jesus ressuscitou esse homem

Mozim pegou o assunto e iniciou:
Jesus ressuscita morto
Conforme a bíblia confessa
Eu ia morrendo de graça
Mas, Jesus chegou depressa
Botou a mão e eu escapei
Depois paguei a promessa

Deozim continuou:
Que estória de promessa
Você não entende o xadrez?
Jesus só lhe deixou vivo
Por levar de outra vez
Pra você se arrepender
Das besteiradas que fez.

Nivaldo Amador, poeta, economista e político de conceituada capacidade intelectual na região sertaneja pediu o seguinte a Assunto para sextilhas: Santo protetor

Mozim Iniciou:
O santo que me protege
É de ferro, bronze e aço
Reza de noite e de dia
E nunca sente cansaço
Ajoelha-se e se levanta
Não sofre dor de espinhaço.

Deozim continuou:
Pois o meu é um fracasso
Velho fraco e dormi oco
Reza uma vez por semana
Que pra santo é muito pouco
Vive a vida na moleza
E eu passando sufoco.

Antonio Amador, engenheiro, professor Universitário e poeta extraordinário, pediu um assunto bíblia para sextilhas: Crucificação de Jesus.

Mozim Iniciou:
Sei que Pôncio Pilatos
Um romano endiabrado
Foi amigo de Herodes
Jesus foi crucificado.
Mas depois suicidou-se
Para pagar seu pecado.

Deozim continuou:
Pilatos cabra safado
Foi fraco de fazer dó
Lavou as mãos, e os pés
Perna, braço e mocotó
Não Lavou o corpo inteiro
Por faltar Sabão em pó.

O poeta Zé Laurentino chegou à cantoria pediu seguinte mote:
Quem é que não tem saudade
De alguma coisa na vida.

Mozim Iniciou:
Ainda tenho lembrança
Da minha primeira escola
Do meu baião de viola
Que escutei quando criança
Da minha primeira dança
No forro de Margarida
Do meu copo de bebida
Que deixei pela metade
Quem é que não tem saudade
De alguma coisa na vida.

Deozim continuou:
Do tempo que foi solteiro
Da primeira namorada
Das farras de madrugada
Gastando pouco dinheiro
Depois em meu travesseiro
Aquela mulher bandida
Que mesmo sendo fingida
Dava-me felicidade
Quem é que não tem saudade
De alguma coisa na vida.

Dácio Amador, filho de Zé de Sousa chegou na cantoria pediu para cantar as mazelas da vida cotidiana.
Assunto: As mazelas da vida cotidiana

Mozim Iniciou:
Para se livrar dos males
Tem que ser mais Perspicaz
Lutar por dignidade
Por métodos racionais
Já que a caixa de Pandora
Nem todo o mundo Faz

Deozim continuou:
Precisa mesmo é ter gás
Pra botar no candeeiro
Pra que ter dignidade
Se que vale é ter dinheiro
Quem não sabe fazer caixa
Não dá pra ser carpinteiro.

Depois foi pedido o seguinte mote:
Minha bomba de puxar água
Está diferente de mais.

Mozim:
No tempo que eu era moço
O meu kit de irrigação
Era uma perfeição
Irrigava carne e osso
Veia fina e couro grosso
E as vias tangenciais
Hoje diferença faz
O líquido não mais deságua
Minha bomba de puxar água
Tá diferente de mais.

Deozim continuou:
Só se for a do senhor
A minha é uma beleza
O liquido tem correnteza
Basta é liga o motor
Irriga com tanto fervor
Que jorra pelos canais
Nos momentos especiais
Não tem lamento nem magoa
Minha bomba de puxar água
Tá diferente de mais.