segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

O Sax divinal de Nedota

O Sax divinal de Nedota
Crônica do escritor e poeta Wergniaud Breckenfeld Alexandre
  
O semblante de nossa São João amanheceu mais escuro, triste e silencioso  sem ouvir os doces acordes de um Sax que fazia parte do cotidiano de nossa história. Morreu seu dono Nedota, aquele que dominava com incomparável maestria este instrumento. Partiu o velho boêmio, que tantas alegrias proporcionaram nos sambas, forrós e carnavais, com seu bocal abençoado e a sensível inclinação musical para a arte dos sons e dos ritmos, ao lado dos seus companheiros Raimundo Levina, Nego Dela, Piapai e Edmilson Sanfoneiro. A mansidão, a humildade, a desambição, e o domínio que tinha sobre sete instrumentos, fizeram deste ser tão especial, um mensageiro da nostalgia que encantava seus ouvintes e admiradores.
Ele tinha a música dentro si. Era a presença de Deus manifestada através do instrumento. Uma valsa, um bolero, um choro, um frevo ou outro estilo musical, sem utilizar a partitura, continham arranjos que somente ele realizava de forma única e irretocável, tornando-se um fenômeno que orgulhava os melhores músicos de sua terra e região.
O maestro, compositor e arranjador Natinho, esta enciclopédia de abrangência excepcional, é testemunha do que o grande Nedota era capaz de realizar, de ouvido, em qualquer gênero musical.
Quantas noites insones não animaram nossos corações com seus sopros divinais contemplando o amanhecer, através das frestas das janelas do inesquecível navarrense clube, onde os foliões embevecidos ouviam seus frevos aguardando com tristeza a chegada da ingrata quarta-feira de cinzas.
Parte o homem, e fica o legado a ser seguido pelos amantes da boa música. Onde ele estiver à alegria estará presente enaltecendo os corações dos mal amados.
Ah! Meu velho e querido amigo, não se esqueça de transmitir um forte e afetuoso abraço ao seu colega saxofonista, o saudoso Renan de Doutor Alberto. Aproveite a paz e as belezas dos jardins que um dia Eva habitou, convidando Banjim para cantar PAIXÃO DE UM HOMEM de Waldick Soriano, e reserve uma meota na nuvem mais fria que você encontrar, que em breve nos encontraremos para relembrarmos com saudade, os dobrados tocados pela banda municipal nas retretas no velho coreto e nas alvoradas ensolaradas pelas ruas empoeiradas da antiga Antenor Navarro.
Nossos profundos sentimentos à sua família!      
Aplausos musicais para o inesquecível Mestre Nedota!
É o mínimo que ele merece!

Wergniaud Breckenfeld Alexandre
          João Pessoa, 14 de janeiro de 2014.